Política

O programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve incorporar o conceito do “Green New Deal”, que usa políticas ambientais para estimular a economia.

O projeto ganhou força nos EUA nos últimos anos, puxado sobretudo pelas alas mais à esquerda do Partido Democrata, especialmente lideranças como o senador Bernie Sanders e a deputada federal Alexandra Ocasio-Cortez.

Em maio, Guilherme Boulos – que foi candidato à presidência pelo PSol em 2018 – definiu o conceito da seguinte forma: “Encampado por Noam Chomsky e lideranças da esquerda mundial, o Green New Deal aponta os caminhos para uma transição verde que, ao mesmo tempo, enfrente o aquecimento global e garanta condições de vida dignas aos trabalhadores”.

No sábado, 4, o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) levou a proposta a um seminário da chapa Lula-Alckmin sobre o tema ambiental.

A ideia é investir nos próximos anos em energias renováveis e descarbonização da economia, como forma de gerar emprego e renda para o país.

Sem concessões

Na ocasião, Lula defendeu leis mais duras para combater a degradação do meio ambiente e afirmou que, se vencer a eleição, seu governo não fará concessões em temas de proteção de áreas demarcadas, como reservas indígenas e florestais.

Em seu discurso, neste sábado, o pré-candidato petista disse que em muitos temas é preciso entrar em negociações políticas, mas que há pontos das pautas de preservação do meio ambiente e de proteção de comunidades indígenas nos quais não haverá concessões caso ele vença o pleito de outubro.

“Nesse negócio não tem meio-termo. A gente tem que ter coragem de dizer: não haverá garimpo em terra indígena neste país. Outra coisa: as terras que forem demarcadas como áreas de proteção ambiental terão que ser respeitadas. Não vai ter concessão”, disse.

A proteção ao ambiente é vista por especialistas como uma das principais áreas sob desmonte no governo Bolsonaro. Em governos do PT, porém, também houve fortes críticas à atuação federal, principalmente sob Dilma Rousseff (PT).

Ainda assim, Lula aproveitou para elogiar a ex-senadora e ex-ministra de Meio Ambiente de seu governo Marina Silva (Rede), em momento em que busca o apoio dela. “Acho que nós acertamos nos ministros. A Marina [Silva] foi uma extraordinária ministra. O [Carlos] Minc é um cara de muita qualidade. E depois a Izabella [Teixeira], que ganhou muita responsabilidade pela eficácia do trabalho dela”.

Ao pedir demissão do governo Lula em 2008, a então ministra Marina Silva também apontou uma série de problemas, incluindo a falta de apoio para levar adiante medidas duras de combate ao desmatamento na Amazônia.

Críticas e acenos

Lula ainda criticou o ex-ministro da área na gestão Bolsonaro, Ricardo Salles, que foi alçado a seu primeiro cargo de projeção por Geraldo Alckmin (PSB), seu vice na chapa à presidência e que estava a seu lado durante o discurso. Salles foi secretário do Meio Ambiente em São Paulo no governo Alckmin.

“Depois aparece um tal de Salles, que ninguém sabe de onde veio, para onde foi. Um rapaz que eu achei que era até moderno, porque era todo moderninho, óculos cor-de-rosa, sabe? E depois o seguinte: o cara era um desmatador profissional. O Brasil não merece isso”, afirmou Lula.

O líder petista defendeu também que órgãos de proteção ambiental esvaziados no governo Bolsonaro passem por um processo de recuperação e que leis mais rígidas sejam aprovadas para evitar a destruição do ambiente. “O Estado precisa assumir responsabilidade. Então o ministério vai ter que ter mais gente, a fiscalização vai ter que ser mais forte, a gente vai ter que ter leis mais duras, sabe?”.

Lula disse que é preciso adotar políticas alinhadas com estados e municípios nessa área. “Eu fico imaginando nessas queimadas todas que a gente vê, eu lembro que a gente fica discutindo de quem é a culpa, se é do governo, se é do Ibama, se é do Estado. Não, é preciso chamar o prefeito da cidade onde está tendo a queimada, porque ele pode ser amigo do fazendeiro, ele pode ser o próprio fazendeiro”, afirmou.

“Se a gente não responsabilizar as pessoas, as pessoas vão falar: ‘Bom, está queimando na minha cidade, mas não é comigo’. Nós temos então que fazer com que o Estado recupere a relação federativa que nós já tivemos”, completou.

Em seu discurso, o ex-presidente também fez um aceno ao setor do agronegócio. “Ontem tive uma reunião com um empresário e ele me dizia: ‘Presidente, vocês têm que nos ajudar, têm que separar a gente que é produtor rural, que negocia com a União Europeia, com a China, com os Estados Unidos. A gente não quer ser misturado com esses caras que querem comprar armas, desmatar, fazer garimpo e matar índio’”, relatou e completou: “Então, vocês percebem que até do lado de lá tem gente que quer ganhar dinheiro, que é dono do agronegócio, mas tem responsabilidade”.

Fábio Zanini e Flávio Ferreira

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